Semana passada, Estela, a labradora da mãe do Gregório Duvivier, teve dez filhotes. Depois de 60 dias de gestação. A beleza dos neonatos inspirou Gregório a compartilhar uma imagem que para ele uniria o país em fofura e amor. Errou. Errou rude, Gregório.
Conforme Gregório publicou no seu texto na Folha de São Paulo “poderia ficar horas assistindo ao espetáculo de dez filhotinhos disputando nove tetas …” e seguiu: “Tudo vira uma discussão inócua e interminável. “Taí uma coisa unânime”, pensei. “Filhotes de cachorro talvez sejam a última unanimidade que nos resta.” Quem sabe conseguiria, com uma foto da prole mamando, unir o Brasil. Doce ilusão.”
Gregório se refere à doce ilusão por ter realmente recebido alguns comentários descabidos sobre o PT e sobre o país, porém, no meio deles, estavam alguns ativistas pela causa animal que o contestaram (eu mesma postei na foto a hashtag #QuemAmaCastra, pois existe uma coisa chamada lugar de fala e quem não dá o sangue pra pisar na lama que a sociedade construiu não pode argumentar de maneira ignorante sobre o que não vive).
Ao invés do ator e escritor se informar e pedir desculpas, ele publica em sua coluna:
“Conclusão: melhor desistir da internet. Entendo que já existam muitos cachorros, mas ainda assim continuo sem entender que tipo de criatura vê filhotes de labrador e pensa: “Eu preferia que eles não existissem”.”
Então explico, Gregório, o tipo de criatura que preferia que eles não existissem é o mesmo tipo de criatura que dá a vida por eles. O mesmo tipo de criatura que, embora aprecie bebês humanos, é a favor da legalização do aborto por compreender que ele é necessário por inúmeras razões. O tipo de pessoa que atua e conhece a pauta.
“Detesto fazer coro com os que dizem que o mundo tá chato. Mas se uma cachorra já não pode ter filhotes, e se os filhotes não podem ser comemorados, vou ter que concordar: o mundo tá meio chato.”
Este jargão de que o mundo está meio chato já foi dito aos “ecochatos”, depois às feministas, aos negros, aos gays. O politicamente correto incomoda de fato o ignorante da questão. Infelizmente a causa animal ainda não entrou para o privilegiado círculo das pautas da esquerda. O que respondo é que os que dizem que o mundo está chato por desconhecer as lutas de machismo, racismo, homofobia cometem irreparável injustiça e atrapalham os avanços das causas as desmerecendo dessa forma. Simplesmente não seja essa pessoa.
Mais uma pérola foi “Aproveito então pra propor uma hashtag bem mais eficiente pros ativistas de timeline. Chama #QuemAmaSeMata. Afinal, sua vida tá esquentando o planeta e tornando pior a vida de muita gente ao seu redor. Você já pensou nisso?”
Já pensamos, Gregório, nossa resposta é o veganismo. Nossa resposta é o consumo consciente, o trabalho educativo, a auto-crítica. O que nos surpreende é você não ter pensado no assunto. Seu texto é triste, porque mostra que mesmo o cara politizado do Youtube ainda desconhece todo um universo de exploração e crueldade. O problema não é do labrador, ou de seus filhotes. O problema é a inconsciência e a desinformação que pouco ajudam e muito atrapalham.
Para finalizar, em seu texto, ele diz “Ah, todos os filhotes já tem casa. E a Estela vai ser castrada. Porque afinal todos concordam que dez é um bom número.” Imagino se o Gregório já tivesse resgatado um animal das ruas, se teria este final feliz como ele mesmo celebra. A dificuldade de um animal sem raça definida de encontrar um lar é inversamente proporcional à facilidade dos seus filhotes. E a culpa, claro, não é dos cães, mas das pessoas que não entendem a relação entre a comercialização e o abandono.
Dez, Gregório, não é um bom número. No município São Paulo, por exemplo, existe uma lei, 14.483/07, que determina a castração obrigatória, e se não existe lei que determine isso no município de residência da sua mãe, o bom senso e responsabilidade com os filhotes, com a causa animal e com o meio ambiente também determinam isso.
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